Eu tinha dez anos quando me caiu nas mãos, apareceu lá em casa não sei como, o romance Crime e Castigo, de Fiodor Dostoisvski. Claro que eu só fui saber que era de um escritor russo muito tempo depois, e que era uma das grandes obras da literatura universal. O importante é que fiquei curioso e comecei a ler aquele romance como se o tempo não existisse. O livro tinha capa dura e na quarta capa uma fotografia do autor de longas barbas e olheiras profundas. Ali decidir que em algum tempo eu seria escritor. Só não sabia quando.
A leitura daquele romance, um catatau com mais de 500 páginas, foi uma loucura. Eu lia escondido, e não tinha horário certo. Naqueles anos eu estudava em um grupo chamado de Miguel Borges, no bairro Barroção, na zona sul de Teresina. Lembro que aundo estava lendo o romance ia para a escola pensando no livro sem parar. No recreio eu não saia para brincar com os amigos, e algumas vezes nem para merendar meu chocolate com leite ou o mingal de aveio, merendas daquele época. Ficava na sala pensando naquela história fantástica daquele rapaz perturbado que tinha matado uma velha ranzinza. Mas talvez o romance fosse apenas uma desculpa para não sair da sala. Na verdade eu era um garoto frágil que sofria de asma, e muitas vezes não me dava vontade de nada. Minha professora Jacira notando minha não saída da sala uma vez pegou na minha testa e perguntou se eu estava doente. Eu disse que não, mas devia está porque o romance não saia de minha cabeça.
Minha família mudou-se da zona sul para a zona norte, ainda bem que eu já tinha terminado de ler o livro. Terminei meu primário no Grupo Escolar Anisio de Abreu. Fiz o exame de admissão e passe a estudar o ginásio no Colégio Helvidio Nunes. Estudei sete anos naquele colégio até concluir o cientifico. Durante o ginásio e o cientifico eu precisava de livros para estudos e pesquisas. Fui esbarrar na Biblioteca Cromwel de Carvalho. Ali descobir meu mundo - os livros. Não que eu estivesse parado de ler, pois eu lia tudo, de revisas em quadrinhos, revistas de fotonovelas, gibis a bula de remédios. Na biblioteca tinha todos os clássicos da literatura nacional e muitos romances de autores estrangeiros. Lá eu reencontrei o velho Fiodor e seu romance Crime e Castigo. Foi lá que eu fiquei sabendo muita coisa sobre esse autor russo fantástico..